O inconsciente é a verdadeira realidade psíquica

Sigismund Schlomo Freud (1856-1939) nasceu em Freiberg, na Morávia. Quando Freud tinha quatro anos de idade, a família mudou-se para Viena, e Sigismund tornou-se Sigmund. Concluiu o curso de medicina em 1886, abriu um consultório especializado em neurologia e casou-se com Martha Bernays. Mais tarde, desenvolveu o método da “cura pela fala” que se tornou a psicanálise.  Em 1908, Freud formou a Sociedade de Psicanálise. Durante a Segunda Guerra Mundial, os nazistas queimaram seu trabalho em praça publica, e Freud mudou-se para Londres. Praticou suicídio assistido, após ter um câncer de boca.

O inconsciente é um dos conceitos mais intrigantes da psicologia. Parece conter todas as nossas experiências bem como estar fora de nossa percepção e controle. É o espaço em que armazenamos todas as nossas memórias, pensamentos e sentimentos. Sigmund Freud ficou fascinando pelo tema e estudava se era possível explicar coisas que pareciam estar fora do alcance da psicologia vigente em sua época.  A partir de suas investigações da mente Freud descreveu a estrutura  formada por consciente, inconsciente e pré-consciente; popularizou a ideia de inconsciente e introduziu a noção de que é a parte da mente que define e explica os mecanismos responsáveis por nossa habilidade de pensar e sentir.

Hipnose e histeria

Freud conheceu o médico Jean-Martin Charcot que usava a hipnose em suas pacientes no tratamento de doenças mentais. Charcot considerava a histeria um distúrbio mental causado por anormalidades no sistema nervoso, uma ideia que proporcionou novas e importantes possibilidades de tratamento. Mais tarde Freud conheceu Josef Breuer, um médico respeitado que descobrira ser possível reduzir muito a gravidade dos sintomas da doença mental de uma de suas pacientes pedindo-lhe simplesmente para descrever suas fantasias e alucinações. Ele também usou a hipnose e concluiu que os sintomas da paciente eram produto das memórias perturbadoras ocultas em sua mente inconsciente e que ao dar voz aos pensamentos, essas memórias eram trazidas à consciência, possibilitando o desaparecimento dos sintomas. Os dois começaram a trabalhar e desenvolveram um tratamento psicológico baseado no conceito de que muitas formas de distúrbios mentais resultavam de experiências traumáticas ocorridas no passado do paciente e que então se mantinham ocultas da consciência. A respeito da nova técnica os dois escreveram – Estudos sobre a histeria (1895). Breuer acabou discordando de Freud pois este dava muita ênfase no conteúdo sexual das neuroses (problemas causados por conflitos psicológicos).

A mente cotidiana

Segundo Freud, o estado ativo da consciência é apenas uma fração do total de forças atuantes em nossa realidade psicológica. O consciente existe em um nível superficial, ao qual temos acesso fácil e imediato. O consciente está a mercê do inconsciente. A mente consciente é apenas a superfície em um complexo reino psíquico. O inconsciente abrange tudo, como disse Freud, e domina o pré-consciente e o consciente.  Tudo o que é consciente esteve em algum momento nas profundezas do inconsciente antes de emergir à consciência.

O inconsciente funciona como um receptáculo das ideias e memórias poderosas ou dolorosas demais, ou que estão de alguma forma além da capacidade de processamento da mente consciente.

Pensamento dinâmico

Freud foi influenciado pelo pensamento do psicólogo Ernts Brucke que afirmava que todos os seres vivos tem um sistema de energia que não pode ser destruída, mas pode ser transferida ou transformada. Freud aplicou essa ideia nos processos mentais criando o conceito de “energia psíquica”. Aplicando a ideia pode-se dizer que se temos um pensamento inaceitável pela mente consciente, ela o redireciona para o inconsciente, num processo que o médico chamou de “recalque”.

Pulsões motivadoras

É no inconsciente que também residem as pulsões instintivas biológicas, as chamadas necessidades básicas que garantem nossa sobrevivência, mas é também no inconsciente que outra pulsão, a de morte, opera com sua força autodestrutiva e nos move pra frente , ainda que, ao fazê-lo, estejamos cada vez mais próximos da morte.

Em obras posteriores Freud propôs uma nova estrutura para a mente: ID, EGO e SUPEREGO. ID é composto pelos impulsos primitivos obedecendo ao princípio do prazer. O EGO atua sob o comando do principio da realidade, segundo o qual não podemos ter tudo o que desejamos, mas devemos considerar o mundo em que vivemos, ele faz isso negociando com o ID. O EGO, por sua vez, é controlado pelo SUPEREGO que é a voz internalizada dos pais e do código moral da sociedade.

O inconsciente abriga uma enorme quantidade de forças conflitantes, além, das pulsões de vida e morte, contem a intensidade das memórias e emoções recalcadas e as contradições quanto a compressão da realidade permeadas pela realidade reprimida.

Tratamento psicanalítico

O sofrimento emocional, segundo Freud é resultado de um conflito inconsciente. Não podemos ficar sempre lutando contra nós mesmos, a insurreição de temas recalcados e a força da morte sem sentir turbulência emocional. O objetivo do tratamento era livrar o paciente das memórias reprimidas e assim aliviar o seu sofrimento mental. Freud chamou seu tratamento de Psicanálise ou psicoterapia analítica. A psicanálise só é realizada por um terapeuta treinado na abordagem freudiana – aquele que estimula o paciente a se deitar num divã e falar.

Durante o processo de análise, o analista age como um mediador, procurando abrir espaço para que pensamentos silenciados e sentimentos intoleráveis venham à superfície. Mensagens que nascem do conflito entre consciente e inconsciente tendem a aparecer disfarçadas ou codificadas, e a tarefa do psicanalista é interpretar essas mensagens utilizando as ferramentas da psicanálise.

O inconsciente se manifesta através dos sonhos, atos falho (lapsos de linguagem) e o processo de associação livre. A associação livre permite, através de uma palavra ouvida pelo paciente e em seguida ele diz a primeira palavra que vem a mente. Assim os pensamentos “ocultos” podem ser enunciados antes que a mente consciente possa detê-los.

Freud afirmava que emoções não digeridas, tentam constantemente vir à tona, gerando uma tensão cada vez mais desconfortável e provocando medidas cada vez mais extremas para mantê-las fora do consciente. A análise permite que memórias e sentimentos aprisionados venham a tona e até surpreendem os pacientes que acham que a questão estava resolvida. Esse processo é chamado de catarse.

Escola de psicanálise

Freud fundou a proeminente Sociedade de Psicanálise em Viena onde exerceu grande influencia sobre a comunidade médica da época. Com o tempo, seus alunos e outros profissionais fizeram alterações nas ideias de Freud, o que culminou com a divisão da escola em freudianos, kleinianos (seguidores de Melanie Klein) e neofreudianos. A psicanálise moderna conta com pelo menos 22 escolas de pensamento diferentes, mas as teorias freudianas continuam influenciando todo soa analistas contemporâneos.

Resumo

Quando são dolorosos ou inapropriados demais para que a mente consciente possa suportar, ideias, memórias e impulsos são reprimidos e armazenados no inconsciente junto com os nossos impulsos instintivos no qual não são acessíveis pela consciência imediata. O inconsciente dirige em silêncio os pensamentos e comportamento do indivíduo. As diferenças entre nossos pensamentos conscientes e inconscientes criam uma tensão psíquica que só encontra alívio quando permitimos às memórias reprimidas virem à consciência por meio da psicanálise.

Extraído do Livro da Psicologia – Ed. Globo