Consciência por William James

“A consciência... não se apresenta a si mesma aos pedaços... A consciência não é feita de remendos; ela flui.” William James

William James (1842-1910) nasceu em uma influente e abastada família nova-iorquina e viajou muito durante a infância, tendo frequentado escolas tanto na Europa quanto nos Estados Unidos. Em 1861 ingressou na Universidade de Harvard. Em 1864 já estava cursando a Escola de Medicina, mas seus estudos foram interrompidos por surtos de mal-estar físico e depressão. Em 1869 graduou-se médico, mas nunca exerceu. Em 1873 ele voltou a Harvard para lecionar filosofia e psicologia. Criou os primeiros cursos de psicologia experimental nos EUA e teve papel central na consolidação da psicologia como disciplina realmente científica.

O temo “consciência” é geralmente usado para se referir à percepção que um indivíduo tem dos seus próprios pensamentos, sensações, sentimentos e memórias. Mas, se concentramos o pensamento nessa nossa percepção, logo notamos que as experiências da nossa consciência estão sempre mudando. Refletir sobre as experiências da consciência nos faz perceber que os nossos pensamentos estão sempre mudando e, no entanto, parecem surgir juntos, fundir-se e avançar como um todo.

O psicólogo americano William James comparou essas experiências diárias de consciência a um rio que flui continuamente, a despeito de ocasionais interrupções e mudanças de direção.

Primeiras definições

René Descartes, na metade do século XVII, foi um dos primeiros filósofos a tentar descrever a consciência, propondo que ela habitava uma esfera imaterial que batizou de “domínios do pensamento”.  John Locke, filósofo inglês do século XVII, trouxe o conceito moderno de consciência como uma passagem constante de percepções individuais. Immanuel Kant, filósofo alemão do século XVIII ficara impressionado pela maneira como as experiências se unem. Ele chamou esse fenômeno de “unidade de consciência”. Para James, o detalhe mais importante a respeito da consciência é o fato de ela não ser uma “coisa”, mas sim, um processo. Ela nos permite refletir sobre o passado, o presente e o futuro, planejar, adaptar-se às circunstâncias e, com isso, cumprir o propósito fundamental da consciência: sobreviver.

Juntando pensamentos

James concluiu que a maneira mais simples de entender como pensamentos dentro do fluxo de consciência se concatenam para fazer sentido seria supor “que coisas que são conhecidas ao mesmo tempo são captadas numa única pulsação daquele fluxo”. Alguns pensamentos ou sensações acreditava ele, estão inevitavelmente conectados. James afirmava que existem inclusive pontos de repouso, nos quais fazemos uma pausa para formar imagens mentais. Ele chamava os locais de descanso de “partes substantivas” e as correntes em movimento de “partes transitivas”. Não há conclusão; a consciência não é uma coisa, mas um processo em constante evolução.

James também chamou a atenção para a natureza pessoal da consciência, declarando que pensamentos não podem existir dissociados de um pensador – são pensamentos seus ou meus.

Teoria das emoções

Segundo a Teoria das Emoções James-Lange, as emoções derivam das percepções da mente consciente acerca das nossas condições fisiológicas. Um exemplo dessa teoria é o fato de nos sentir felizes por ter consciência de estar sorrindo; não que primeiro tenhamos que nos sentir felizes para depois sorrir.

Pragmatismo

James definiu como “crenças verdadeiras” aquelas consideradas úteis por quem acredita nelas. Esta ênfase na utilidade das crenças é o cerne da tradição filosófica americana de pragmatismo, essência do raciocínio de James. Ele postulava que, no decorrer da vida, estamos testando de modo contínuo “verdades”, comparando-as entre si, e nossas crenças conscientes continuam sendo alteradas, uma vez que as “velhas verdades” são modificadas e às vezes substituídas por “novas verdades”.

Legado duradouro

A versão de 1890 do livro Os princípios da psicologia, de James, continua sendo publicada, e suas ideias influenciaram diversos psicólogos, bem como cientistas e pensadores de outras áreas. A aplicação de sua filosofia pragmática aos fatos – dando enfoque não ao que é “verdade”, mas àquilo em que “é útil acreditar” – ajudou a psicologia a se afastar do problema da separação entre corpo e mente e partir para estudos mais proveitosos sobre os processos metais, tais como atenção, memória, raciocínio, imaginação e intenção.

Antes de James começar a ensinar a matéria na Universidade de Harvard, em 1875, não havia cursos independentes de psicologia disponíveis em nenhuma instituição americana. Vinte anos depois, cerca de 24 universidades americanas haviam reconhecido a psicologia como uma disciplina acadêmica autônoma e ofereciam diplomas do curso.

No ano de 1977, em discurso comemorativo aos 75º aniversário da Associação Americana de Psicologia, David Krech, então professor emérito de psicologia da Universidade da Califórnia em Berkeley, referiu-se a James como o “pai da psicologia”.

Resumo dos estudos de James

A consciência parece ser um fluxo de pensamentos. Esses pensamentos são inteiramente separados uns dos outros... Ou cada pensamento é seguido de outro, e assim sucessivamente... e, no entanto, eles se unem, de alguma maneira e nos dão uma sensação de consciência unificada. Isso acontece porque pensamentos que são percebidos por nós ao mesmo tempo formam uma “pulsação” dentro do fluxo de consciência. Essas pulsações fazem-nos saltar de uma conclusão (ou “ponto de repouso”) a outra... mas continuam a avançar. Nossa consciência está em constante evolução. Sabemos o significado de “consciência”, contanto que ninguém nos peça para defini-lo.

O Livro da Psicologia - Ed. Globo